Como dizia o filósofo indiano, Jiddu Krishnamurti, observar sem avaliar é a forma mais elevada de inteligência humana. Para a maioria das pessoas é difícil fazer observações isentas de julgamentos, críticas ou outras formas de análise sobre os indivíduos e seu comportamento. Em seu livro Rápido e Devagar Duas Formas de Pensar, o psicólogo prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman, demonstra que as pessoas tomam decisões irracionais baseadas em vieses, crenças (modelos mentais) e emoções.
Chris Argyris, que trabalhou com aprendizagem organizacional por mais de 40 anos, destaca como os modelos mentais podem afetar fortemente nossa forma de pensar e agir. Para ele embora as pessoas não se comportem de forma coerente com suas teorias esposadas: aquilo que dizem, as pessoas comportam-se de forma coerente com as suas teorias em uso: seus modelos mentais.
O problema dos modelos mentais não está no fato de estarem certos ou errados. Por definição, todos são simplificações. Os problemas surgem quando são tácitos – quando estão abaixo do nível de consciência.
Abaixo seguem algumas perguntas reflexivas inspiradas nos 5 pilares fundamentais de Argyris para aprimorarar o nosso modelo mental e dessa forma, tomarmos melhores decisões:
1.Desenvolver habilidades de reflexão – desacelerar o pensamento tornando consciente o modo pelo qual se formam os modelos mentais e como influenciam as nossas ações. Uma estratégia pode ser incluir pausas ao longo do dia para refletir:
O que eu penso/pensava que me levou a agir ou tomar determinada decisão?
Quais foram os fatos e dados que contribuiram ou pautaram meu comportamento/decisão? Será que estou selecionando dados que confirmam minha crença?
Quais eram os meus sentimentos e necessidades naquele momento?
O que eu poderia ter feito diferente se meu modelo mental fosse outro?
2. Equilibrar habilidades de indagação e argumentação: ter a coragem de se expor, falar a verdade, mesmo que cause algum desconforto ou nos coloque numa posição vulnerável. Fazer perguntas para compreender o contexto do outro e esclarecer possíveis dúvidas. Muitas vezes realizamos conversas longas assumindo que estamos entendendo o que o outro quer dizer e no fim das contas nada muda. Que tal checar:
O que você quer dizer quando me diz x?
O que estou ouvindo de você é x , está correto?
Quando compartilho com você o que estou pensando, como você se sente?
3. Enfrentar as distinções entre: teorias esposadas (o que se diz) e teorias em uso (o que se faz). Esse talvez seja o maior desafio de mudança. É muito fácil ajustar a narrativa mas muito díficil mudar como nos comportamos:
Estou realmente fazendo o que falo?
Meu discurso está coerente com a prática?
4. Reconhecer lapsos de “abstração”: observar saltos da observação para a generalização. No quadro abaixo seguem exemplos do que evitar e na última coluna como ajustar a linguagem:
Uso demasiado das palavras frequentemente ou raramente. > Você raramente chega na hora. > “Nas últimas três vezes que marcamos uma reunião você não chegou na hora marcada”
Não ser específico da pessoa/fato à que se refere > As pessoas estão trabalhando pouco > “Na área de compras notei que fulano pode contribuir mais fazendo outras tarefas”
Uso demasiado das palavras: nunca, jamais ou sempre. > Nunca consigo falar com você. > “Essa semana tentei falar com você três vezes, mas você não atendeu”
5. Articular o que normalmente não é dito, tornando o raciocínio explícito, dizendo como chegou a um ponto de vista e descrevendo os dados/fatos nos quais ele se baseia.
Observar sem julgar é uma prática constante que exige esforço e, uma intenção genuína de construir relações mais produtivas e sustentáveis.
Deixar de julgar nem sempre é possível. O convite é pensar sobre isso “diminuindo o barulho” dos julgamentos. Com menos interferência dos julgamentos, aumentamos a nossa capacidade de inovar e de tomar melhores decisões.
Escreva para gente contando se ajudou e se tem outras ideias sobre o tema.
Um grande abraço
Fontes:
Marshall Rosenberg – Comunicação Não Violenta
Peter Senge – A Quinta Disciplina
Comments