Viver a maternidade e o trabalho constitui um dos grandes desafios da mulher no mundo moderno. Como conciliar tantas demandas externas e internas?
Se por um lado nos sentimos conectadas e fusionadas com nossos bebês, por outro, aos 4 meses (para muitas mulheres no Brasil) ou aos 6 meses (para algumas sortudas), temos que nos separar e seguir a vida.
Porém seguir a vida como ela era não é mais possível, pelo menos foi a minha experiência pessoal e o que tenho ouvido de muitas clientes, amigas e mães com quem convivo. Não é mais possível pensar a vida como era antes e, ao mesmo tempo, também não conseguimos reorganizá-la rapidamente para que se torne uma nova forma de viver.
Como seguir nesse emaranhado de sentimentos, emoções, pensamentos?
Vou lembrar para sempre a frase do pediatra da minha filha quando tive um acesso de choro numa das consultas médicas. Ele olhou calmamente para meu marido, para mim, e disse: “Queridos, quando nasce um filho, nasce a culpa na mãe.” Isso me marcou profundamente e tenho dialogado com esse sentimento ao longo desses dois anos de maternidade. Peço desculpas por falar sob o meu ponto de vista, que talvez não inclua todas as mães.
Acredito que a culpa se intensifica ainda mais naquela mulher que foi educada para ter uma carreira e para ser bem-sucedida no trabalho, o que ocorre praticamente com toda a geração de mães na atualidade. Cresci ouvindo meus pais dizerem: “Primeiro você deve estudar, ter uma profissão, se dedicar a isso com afinco, obter resultados e depois casar e ter filhos!” Exatamente nessa ordem.
Eu aprendi direitinho a lição. Tanto que levei 8 anos de casada para engravidar da minha primeira filha. Então, nesse contexto me pego, muitas vezes, valorizando muito mais o meu sucesso através das minhas conquistas profissionais. Contudo, nesse momento minha energia está completamente dividida. Preciso focar em duas coisas igualmente importantes: o trabalho e o exercício consciente e pleno da maternidade.
Aí começam a surgir conflitos que não existiam. Por exemplo, minha sócia me perguntou na semana passada: “Quer trabalhar em um projeto que envolve três noites fora de São Paulo?” Quero. Não quero. Quero. Não quero. Eu tinha a possibilidade de escolha nesse momento. A escolha envolveria ter trabalho, ser remunerada, organizar toda uma logística para minha filha ficar bem sem minha presença.
Mas quantas mães não têm escolha? Quantas mães são demandadas pela própria liderança a assumir tarefas que não gostariam de ter no pós-parto e precisam lidar com isso? Quando pensamos nas mães “obrigadas” a tomar decisões mais difíceis, tendemos a pensar que são aquelas que precisam de dinheiro ou que não podem se dar o direito de deixar de trabalhar. Mas não é exatamente só dessas mães que me refiro.
Trago aqui um exemplo que ilustra bem essa realidade. Conheço uma mãe que mora num país nórdico europeu que teve um ano de licença maternidade (o sonho de todas nós brasileiras), e seu marido, seis meses. Dá para imaginar? Mas ela voltou ao trabalho em alguns meses, depois passou uma semana na Ásia e outra em NY, deixando seu bebê. Ela também viveu as mesmas questões que nós: Será que vale a pena? Mas tenho de ir, afinal de contas esse é o trabalho exigido pela minha posição.
Poderia escrever um livro sobre o assunto em vez de um artigo para o blog. Por isso, quero convidá-las a refletir sobre essas escolhas “impostas”, “aceitas”, sobre os possíveis caminhos que podemos tecer para lidar com seus sentimentos, pensar em novas estratégias, reafirmar escolhas – ou modificá-las –, encontrando novas possibilidades de ser mãe e ser profissional.
Deixo um abraço a todas as mães que vivem diariamente o desafio de conciliar trabalho e maternidade.
Feliz dia das mães!
Patricia Buzolin
Sócia Fundadora Oipé
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